Que CBAC foi essa?

Que CBAC foi essa?

Uma pergunta que talvez demorou semanas para responder com calma.

Uma pergunta que talvez demorou semanas para responder com calma - e tudo bem. Porque quando a experiência é intensa, cheia de encontros, trocas e sentidos, a resposta vem aos poucos. Em conversas que continuam. Em ideias que ainda estão germinando.

O que a gente pode dizer com certeza é que a 5ª edição da Conferência Brasileira de Aprendizagem Criativa (CBAC) @aprendizagemcriativa foi potente. Foi encontro. Foi movimento. Foi uma aposta coletiva no poder das redes, das pessoas e da educação que nasce do fazer, da dúvida, da criação.

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Foto: Rosana Helena para Casa Thomas Jefferson

Pela primeira vez em Brasília.

Com 1.752 pessoas, 121 cidades, 27 estados e mais de 190 atividades… O CBAC virou corpo, voz e afeto. Chão fértil pra quem acredita numa educação que não se resolve com soluções prontas, mas se reinventa em cada escola, em cada projeto, em cada pergunta feita com curiosidade. Ali, vimos de perto o que acontece quando a paixão por ensinar e aprender se encontra com a potência do coletivo. E com a coragem de experimentar.

Foi também um reencontro com ideias que nos atravessam há décadas.

Uma das experiências mais simbólicas dessa edição foi o relançamento — com direito a presença de quem fez e vive essa história — do livro Mindstorms, de Seymour Papert.

Publicado originalmente em 1980, Mindstorms: Children, Computers and Powerful Ideas é  uma obra que fundou uma forma de pensar. Papert, matemático e educador que colaborou com Jean Piaget, propôs ali o que viria a se tornar a base do construcionismo: a ideia de que aprendemos de forma mais profunda quando criamos algo significativo para nós.  Quando não apenas recebemos conhecimento, mas construímos com ele — com as mãos, com a mente, com o afeto.

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Nesse livro, Papert propõe uma mudança de cultura:

Que tal usarmos os computadores não para ensinar crianças, mas para que as crianças ensinem aos computadores — e, nesse processo, ensinem a si mesmas?

É uma visão que, 45 anos depois, ainda desafia o modo como muitas escolas operam. E que inspira, até hoje, pesquisadores como Mitchel Resnick, criador do Scratch Foundation e coordenador do grupo Lifelong Kindergarten do MIT Media Lab , que também esteve presente na CBAC.

Resnick tem sido um dos maiores embaixadores da aprendizagem criativa no mundo. E é dele a frase que ficou ecoando em muitos de nós durante o evento:

“Queremos que as escolas sejam mais como jardins de infância, não o contrário.”
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Foto: Magnolia Foto

Ou seja: ambientes onde se aprende explorando, criando, testando hipóteses, com espaço para a curiosidade e a imaginação - não apenas memorizando informações para testes padronizados.

A presença de Resnick foi um lembrete do laço vivo entre teoria, prática e comunidade. Um reconhecimento do que estamos construindo aqui, em rede, de forma distribuída, plural, brasileira.

Uma nova edição, feita a muitas mãos.

A versão brasileira comemorativa de Mindstorms, lançada na CBAC, é também um símbolo desse espírito coletivo. Com tradução cuidadosa de Simone Kubric Lederman (Instituto Catalisador) e apoio da Editora Diálogos Embalados. Sensível e irresistível, essa edição traz o texto original de Papert adicionados de prefácios de diferentes momentos históricos:

  • Um escrito por Papert em 1993;
  • Outro por Mitchel Resnick em 2020;
  • E um novo, assinado por Ann Berger Valente, José Armando Valente e Leo Burd, especialmente para essa publicação.

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Foto: Magnolia Foto

Em tempos de soluções mágicas e plataformas que prometem fazer tudo por nós…

Eventos como o CBAC são resistência. Lembram que nada substitui a escuta, o encontro, o brincar, o fazer com intenção.Precisamos de espaços onde a aprendizagem seja viva. Onde as perguntas importem mais do que as respostas certas. Onde a tecnologia seja ferramenta — não muleta. Onde educar seja, acima de tudo, um gesto coletivo.

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Foto: Sarah Almeida para Thomas Maker

E é por isso que a gente acredita tanto nesse tipo de evento.

Porque ele nos conecta. Nos alimenta. Nos lembra do porquê de estarmos aqui.

Ajudar a organizar a CBAC 2025 foi um desafio e tanto, daqueles que abraçamos porque sabemos que não estamos só. E para o Thomas Maker, que nasceu acreditando que “aprender fazendo” pode ser muito mais que uma uma metodologia e abraçar uma postura propositiva no mundo - participar disso tudo é renovar o compromisso com uma educação que não se rende à pressa, nem ao fácil.

Que se sustenta na curiosidade. Na paixão. E em encontros como esse.

Seguimos.

Com as mãos na massa e o coração na roda. Porque, como bem nos ensinaram as obras de Papert e Resnick,

"É criando que se aprende. E é com os outros que se cria."
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Foto: Magnolia Foto

E nos vemos em 2026, em Mossoró!

Texto por: Daniela Lyra

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Sarah - Maker, 28/Nov/2025