Eu, Educador Maker, e Minhas Ferramentas

Eu, Educador Maker, e Minhas Ferramentas

A Educação Maker: Unindo Teoria e Prática para Transformar a Aprendizagem

Ao longo dos últimos 15 anos, espaços maker se tornaram cada vez mais comuns em museus, escolas, universidades e bibliotecas ao redor do mundo. Aqui no Brasil não foi diferente, com a peculiaridade de termos na figura de Paulo Freire referência próxima da educação progressista e significativa, elemento que nos oferece a base teórica para a implementação destes ambientes educacionais. Independente da metodologia, do tipo de espaço (makerspace, Fablab, ou área designada na escola) ou do material usado, uma característica marcante do aprendizado baseado no fazer é o processo de descoberta – pode-se tentar descobrir maneiras diferentes de criar um paraquedas, de fazer uma máquina-do-nada (Máquina de Rube Goldberg) fenomenal ou uma animação digital usando bloco de código;  pode-se descobrir como desmontar algo, criar pontes para testar forças usando material disponível em casa, ou criar uma forma mais eficiente de oferecer um serviço. Atividades maker podem envolver um ciclo de prototipagem e interação ou simplesmente uma busca, nos fóruns de comunidades, de instruções perfeitas, que serão seguidas passo-a-passo para fazer algo que tenha significado. O que todas as formas de fazer têm em comum é o fazer perguntas e escolhas, descobrir as melhores soluções, documentar e, muitas vezes, divertir-se muito no processo. Makerspaces devem ter inúmeras cores, influências e repertório. Todo educador apaixonado tem uma valiosa caixa de ferramentas com técnicas, práticas, metodologias e ferramentas. Nós do Thomas Maker, depois de alguns anos pesquisando e aplicando diversos formatos de experiências de aprendizagem, contamos para você, educador maker, um pouco sobre a metodologia que usamos para cultivar um framework que estimula a sensibilidade para o design por trás dos objetos e sistemas do nosso mundo e desperta hábitos de pensamento que mudam a maneira que nos comportamos, interagimos, aprendemos e ensinamos.

O Centro Gravitacional da Educação Maker

No livro Maker-Centered Learning,  Edward Clapp – pesquisador chefe do Project Zero (PZ) – afirma que a educação maker tem muitos pontos de interseção com abordagens filosofias de ensino já conhecidas, como pedagogia de projetos e o construcionismo do pesquisador Seymour Papert. No entanto, a educação maker possui o seu próprio centro gravitacional. A pesquisa se esforçou para entender o que é único da abordagem maker de forma respeitosa com a pluralidade do universo do fazer. Para cumprir este objetivo o PZ usou o que chama de abordagem de sintomas – Symptoms Approach – que delineia características presentes em ambientes e aprendizagem maker de diversas formas e contextos. Não é necessário que uma atividade tenha todas as características para que seja considerada maker, pois a ideia não é excluir práticas, mas sim apontar um direcionamento. Segundo a pesquisa, quanto mais sintomas presentes, mais elaborada e completa é a experiência, sob a ótica maker. O PZ nos aponta três “constelações” que compõem o ethos da educação maker:

  • a constelação de comunidade – a colaboração e aprendizagem distribuída, a diversidade de habilidades e expertise, e uma forte inclinação para compartilhamento;
  • a constelação de processo de aprendizagem – a aprendizagem movida pela curiosidade experiencial, a inclinação à prototipação rápida, a tendência a propor projetos de natureza interdisciplinar para resolução de desafios, e a  flexibilidade;
  • a constelação de ambiente – ambiente aberto, acessível, rico em mídias e ferramentas.

O Equalizador da Inteligência Maker

Com base nesses princípios, e para nos ajudar a desenhar experiências que garantam a promoção das habilidades necessárias para que alunos colaborem, tenham empatia, construam, inventem e compartilhem ideias e produtos significativos para si mesmo ou para a comunidade, criamos uma ferramenta que chamamos de Equalizador da Inteligência Maker. Usamos o Equalizador como ponto de partida para ideações e planejamento, ou como base para reflexão sobre pontos que podemos melhorar. .

O Empoderamento Maker segundo a Universidade de Harvard

O PZ, centro de pesquisa da Universidade de Harvard, conduziu uma pesquisa de 3 anos chamada Agency by Design (AbD) que, em colaboração extensa com educadores, mapeou os objetivos primários e secundários da educação maker e quais metodologias usar para alcançar os objetivos apontados pela pesquisa. Cientes de que terminologias para entender e pesquisar sobre o aprendizado centrado no fazer (o maker-centered learning – MCL) ainda precisavam  ser definidas, o AbD propôs, em 2013, o que chamou de “uma definição em construção” do empoderamento maker:

Uma sensibilidade aguçada para o “design” 

por trás de objetos e sistemas, juntamente com a inclinação 

e desejo de “mexer com” e alterar os objetos e os sistemas ao seu redor,

aliada a uma crescente capacidade de fazê-lo.

A primeira parte – uma sensibilidade para o “design” por trás de objetos e sistemas – ressalta a importância de simplesmente perceber que muitos objetos, ideias e sistemas (parafusos, liberdade de imprensa, foguetes, cidades, etc.) foram projetados por seres humanos, são feitos de partes e elementos específicos e  que, em conjunto, se prestam a uma ou várias finalidades. Portanto, podem ser entendidos e analisados do ponto de vista do seu design.

A segunda parte – inclinação e desejo de “mexer com” (tinker) e alterar os objetos e os sistemas ao seu redor – acrescenta um novo elemento, um viés ativo, uma inclinação para a ação de maneira natural. Para ser empoderado, não basta ter a sensibilidade e entender o mundo por uma perspectiva de design, é igualmente importante ter a motivação de “mexer com as coisas” e se sentir impelido, pelo menos de tempos em tempos, a criar  ou ressignificar objetos e sistemas a sua volta (horta escolar, fila do recreio, acessibilidade, etc.). A palavra “inclinação” tem o objetivo de captar o sentido de protagonismo que vem com a tendência de ajustar, reinventar ou criar algo que agregue valor para o indivíduo ou sua comunidade.

E a terceira parte da definição – aliada a uma crescente capacidade de fazê-lo – deixa claro o fato de que propor soluções para desafios reais requer um conjunto de habilidades, conhecimentos e atitudes que dão aos aprendizes não só a capacidade de manusear tecnologias, mas saber aprofundar o conhecimento onde quer que ele esteja para construir significado. Alunos aprendem uns com os outros, com professores, com ferramentas e com pessoas da comunidade. O movimento do fazer celebra o “pensar com as mãos”. Uma vez imersos no projeto, aprendizes se lançam na busca pelos conhecimentos necessários. Do ponto de vista pedagógico, ajudar pessoas a desenvolver a capacidade de interagir com o mundo como um maker significa criar espaços nos quais as habilidades podem emergir naturalmente durante a realização do projeto, frequentemente em grupo. Em resumo, o empoderamento maker está intimamente ligado tanto às habilidades de aprender a aprender e a colaborar quanto às habilidades técnicas e aos componentes  curriculares.

As Três Capacidades Maker

Para alcançar o empoderamento maker, o PZ desenhou um framework instrucional que identifica três capacidades que podem ser ensinadas e que são essenciais para estimular a sensibilidade para o design: olhar de perto, explorar as complexidades e encontrar oportunidades.

Mas não existe uma fórmula mágica, muitas vezes as pessoas têm as habilidades, a inclinação, conhecem as estratégias, mas não visualizam como  usar o conhecimento para modificar os objetos e sistemas ao seu redor. Para facilitar o processo, podemos exercitar as capacidades de forma intencional até que um dia elas sejam internalizadas e se tornem parte de nosso repertório intelectual.

Os pesquisadores do PZ desenvolveram uma série de práticas chamadas Rotinas de Pensamento (thinking routines), que auxiliam educadores a construir um modelo mental maker e reforçam as três capacidades de forma sistemática. Para cada uma dessas capacidades há um conjunto de “movimentos” observáveis – ou indicadores – que alunos e educadores podem usar para ajudar a projetar experiências de aprendizado centradas no fazer, e para apoiar, observar, documentar e tornar o aprendizado neste contexto mais “visível”.  Ao estimular o uso proficiente de ferramentas, materiais e processos (prototipação manual e digital, processo iterativo e espírito empreendedor) e o aprendizado multidisciplinar, o objetivo central é sempre o de colocar o aluno em uma posição de vantagem – aquele que se desenvolve para ser mais autônomo, responsável, proativo e colaborativo. O poder das Rotinas Pensamentos só se manifesta por completo quando elas se tornam mais uma estratégia que o aluno é apto a recorrer a ela naturalmente para melhor lidar com a imprevisibilidade do mundo e a complexidade dos conteúdos acadêmicos.

Sarah - Maker, 17/Out/2024